Nada como chegar mais tarde e aproveitar o calorzinho das 7. O sol que já tinha pintado o céu de azul agora emprestava um pouco da sua energia para quem voltava e para quem partia.
Tirei o caiaque do cavalete, espanei a areia do abandono de mais de 15 dias e fui pro mar. Ainda na praia passei pela galera que subia uma canoa de 6. Gente com ar alegre, irradiando suave felicidade. Depois de uma rápida troca de palavras preguiçosas, lá estava eu boiando no mar verdinho.
Dentro da enseada sentia o vento vir de leste, mas logo na virada do Pão de Açúcar, onde o vento faz a curva, percebi que vinha de nordeste, como de costume.
Remei contra a corrente caminhante, que jogava para o marzão, até estar de frente à praia de Fora. Parei para observar. Faz um tempo que os dias estão transparentes, mesmo que uma névoa insista em ficar alí bem perto da superfície. Nada custa parar um pouco para apreciar a paisagem, ver a fortaleza de São João, o São José e o Forte da Laje com o Dedo de Deus ao fundo.
O caiaque balançando cantava a canção do silêncio. As gaivotas cruzavam o céu a todo instante e uma tartaruga esperta fugiu medrosa nadando pro fundo.
No balanço suave das ondas quase dava pra sonhar com os olhos perdidos na paisagem. Mas logo a promessa do sonho se diluiu no espaço, e aquela preguiça morna foi indo embora. Meti o remo na água.
E o ritmo do remo foi trazendo uma sensação boa de paz e abandono.
No Cara de Cão, ondas mansas. Tudo parecia manso e irreal. Real mesmo era o sossego acompanhando a música do remo batendo na água, a sensação de conforto e bem-estar.
Hora de partir pro trabalho. Como se consegue ir trabalhar com tanta beleza enchendo o peito? Consegue porque há a lembrança de uma manhã encantada, como são todas as manhãs nas trilhas do mar.
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