Intermediários

Processos, ferramentas e ambientes para objetivos subjetivos

O que é invisível a nós? Que coisas escapam aos cinco sentidos, que estão presentes mas não podem ser definidas? Ou seria a pergunta, o que é o invisível?

Um objeto é comum. Porém quando é portador de um poder, o que passa a ser? Um talismã, uma arma, um instrumento? O poder transforma o objeto em um veículo, uma ferramenta que permite ao seu operador realizar o objetivo proposto. Igualmente, uma área quando designada e delimitada passa a ser o espaço que possibilita o acontecimento do objetivo proposto. E interessam também os espaços de fronteiras pouco definidas, como são os espaços emocionais e espirituais, da mesma forma os dos sonhos e os das fantasias. Espaços estes que são abstratos e impalpáveis, que se permeiam e se confundem entre si, onde entramos e de onde saímos constantemente sem nos dar conta.

Os objetos-espaços atuam entre o físico, o psicológico, o emocional e o invisível. São intermediários e como tal passam a depositários de possibilidades, poderes e anseios. Pontuam o silêncio. São ações poéticas que existem no vazio entre as continuidades.

Rodrigo Cardoso, 2006



segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Circunavegação da Ilha Grande em caiaques e canoas 2013: Das Palmas ao Presídio



9 horas da manhã do dia 2 de janeiro de 2013. 
Depois de uma noite tempestuosa me esquivando das goteiras do telhado, cá estou com caiaque e tralhas sobre as areias molhadas da Praia dos Mangues - Ilha Grande. Em menos de uma hora terei terminado de arrumar a bagagem no compartimento da Tapajós, me despedido da minha mãe e dos amigos, com quem virei o ano no Hotel Paraíso do Sol, e partido para a Praia dos Castelhanos, onde tenho encontro marcado com a galera do CCC que vem de Conceição de Jacareí para mais uma circunavegação da Ilha. Há uns 10 anos fazemos esta viagem que já virou um clássico, como gosta de dizer a Kate. 
Uma última olhada na carta e no caderninho:
Praia dos Mangues - Castelhanos
Distância aproximada: 5 km
Velocidade média estimada: 6 km/h
Tempo de remada estimado: 50 min
9:50. Partiu. Diante de mim a Ilha das Palmas e a Ponta da Cafua. O mar está calmo; o céu encoberto. Sinto-me seguro e confortável na prancha oceânica Tapajós. Paro algumas vezes para ajustar uma coisa e outra e fotografar. Passo ao lado do Ilhote das Palmas; viro a Cafua. O mar tá verde; tenho a impressão que  o tempo vai melhorar. O vento é fraco e parece vir de SE. Já posso distinguir o farol e em poucos minutos avisto a pequena praia. Tem gente. Aterrizo às 10:30. Agora é só esperar a galera.

Duas horas de espera e vejo ao largo os primeiros sinais dos remadores. Gustavo e Renata vêm na frente na OC2 amarela e azul e são os primeiros a desembarcar. Em seguida chegam Edu; Marquinhos; Letícia; Kate e Lucinha, no Ecomotion; Clair; Pedro; Ivan e Vini. Logo informam que o leme da canoa da Ana quebrou e que ela e Flávia foram para Abraão escoltadas pelo Pedro e que tentariam ir a pé para Dois Rios encontrar conosco.


Pequeno lanche e um pouco de repouso. A previsão do tempo era severa: frente fria com ondas de quase 2 metros para a tarde, subindo para até 3 metros nos dois dias seguintes, segundo me informaram. Ponderamos e decidimos partir. É ver para crer, e crer para ver, disse pro Vini. O mar é sempre meio agitado depois de passar pela Ponta dos Castelhanos, e fica assim até passar pela Ponta do Guriri, depois melhora.
No caderno:
Castelhanos - Dois Rios
Distância aproximada: 13 km
Tempo de percurso: 2h10 min.
A partir da Ponta de Lopes Mendes, seguir 295°
Barcos na água. Todos à bordo. Partimos às 13:05. 
Até a ponta dos Castelhanos seguimos com remadas decididas. Ao avistar as ondas estourando nos recifes vi surgirem os pontos de interrogação sobre as cabeças dos remadores. Um pouco de hesitação, mas um a um fomos passando para o "outro lado". O mar estava agitado; o céu cinzento, com nuvens baixas tocando o cume dos morros; chuviscava. Sintia a prancha balançar e ia controlando com apoios altos e baixos. Sentia um pouco o ombro direito.

Passamos pela ponta do Guriri com esperança de um mar mais clemente. Nada feito. Estava pior; anárquico, formando picos, alguns quase na altura da cabeça. A prancha tornou-se instável, difícil me manter no banco. Os caiaques avançavam bem. Mesmo o Ivan, apesar da pouca experiência, seguia sem maiores dificuldades. Letícia, por sua vez, em sua Kombi com três andares de carga no convés, temia pela integridade da canoa que recebia sem trégua os açoites das ondas sobre a ama.

Dado momento, depois de passar a Ponta das velhas, virou. Remei em sua direção e na terceira tentativa conseguimos desvirar a canoa e seguir em frente. Inspirado pela capotagem da Kombi da Lê na curva das velhas, caí na água, derrubado por uma onda mais traiçoeira. Caí mais três vezes até chegar em terra firme.

Na passagem pela Ponta de Lopes Mendes, cogitamos desviar para a praia. Além do mar caótico, começava a despencar uma chuva grossa. Não, vamos para Dois Rios onde teremos uma casa pra ficar, alguém falou. Em Lopes Mendes seria realmente bem mais precário.
Continuamos remando. A visibilidade baixa nos levou mais para dentro, na direção de Caxadaço. Contornamos a costeira e finalmente entramos na enseada de Dois Rios debaixo do maior temporal. Desembarcamos entre as ondas às 15:45.

Do céu e do mar já nos diziam que passaríamos alguns dias naquele paraíso. Ironia. Detidos no local onde no passado recente funcionava a Colônia Penal da Ilha Grande.

4 comentários:

  1. Na simplicidade de seu relato deu pra sentir um gostinho de como foi. As fotos dão um ainda mais sabor para o seu relato!

    ResponderExcluir
  2. Quero mais! Mais mar e mais relato! Nunca fui tão feliz em te ver ao meu lado na desvirada da kombi, obrigada compañeiro! Love you!

    ResponderExcluir
  3. eae cara eu sou um dos garotos que estava na praia dos catelhanos...muito show o blog

    ResponderExcluir
  4. Esse caiaque verde da Opium é muito bacana.

    ResponderExcluir