Intermediários

Processos, ferramentas e ambientes para objetivos subjetivos

O que é invisível a nós? Que coisas escapam aos cinco sentidos, que estão presentes mas não podem ser definidas? Ou seria a pergunta, o que é o invisível?

Um objeto é comum. Porém quando é portador de um poder, o que passa a ser? Um talismã, uma arma, um instrumento? O poder transforma o objeto em um veículo, uma ferramenta que permite ao seu operador realizar o objetivo proposto. Igualmente, uma área quando designada e delimitada passa a ser o espaço que possibilita o acontecimento do objetivo proposto. E interessam também os espaços de fronteiras pouco definidas, como são os espaços emocionais e espirituais, da mesma forma os dos sonhos e os das fantasias. Espaços estes que são abstratos e impalpáveis, que se permeiam e se confundem entre si, onde entramos e de onde saímos constantemente sem nos dar conta.

Os objetos-espaços atuam entre o físico, o psicológico, o emocional e o invisível. São intermediários e como tal passam a depositários de possibilidades, poderes e anseios. Pontuam o silêncio. São ações poéticas que existem no vazio entre as continuidades.

Rodrigo Cardoso, 2006



segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Viajar em kayak oceânico: açúcar ou gordura?


Adoro viajar de  caiaque. Não faço para bater recordes ou realizar feito inédito. Gosto mesmo é de chegar numa praia, montar acampamento, fazer um fogo e  relaxar um ou alguns dias em contato com a  natureza, contando com recursos próprios. Durante minhas viagens, o grande desafio é economizar energia, pois quanto menos desperdiçar, menos terei que correr atrás. É uma questão lógica, e se aplicar esta lógica  no cotidiano, mesmo quando estou em casa, minha vida fica muito mais simples e fácil. Com o tempo aprendi muitas maneiras para evitar esforço inútil, e é disso que quero falar.
Numa remada curta de algumas horas ou mesmo de um dia, não me importo muito com a questão energética, mas se a viagem vai durar mais do que dois dias com pernadas de 30 km por dia, já começo a entrar no clima e me preocupar com a energia necessária para cumprir as etapas, e posso garantir que faz uma grande diferença  usar ou não algumas técnicas simples.
Durante o esforço, podemos usar como combustível açúcar, gordura, ou uma mistura dos dois. As reservas orgânicas de gordura, são concentradas e abundantes, mesmo em pessoas magras. As de açúcar, incluindo o glicogênio dos músculos e do fígado, ao contrário, são bastante limitadas e se recompõem lentamente, sendo suficientes para aguentar apenas alguns minutos ou algumas horas de remada, dependendo do condicionamento físico do praticante.
No caso de uma viagem em caiaques, em que muitas vezes nos metemos em situações de sobrevivência, é fácil entender a importância de poupar nossas reservas de glicogênio para os casos de necessidade urgente, e de usar as gorduras como principal combustível durante a remada. 
É tudo uma questão de ritmo. A glicose e seus derivados presentes no organismo são os únicos combustíveis capazes de se oxidar rapidamente para fornecer energia durante um esforço intenso. Depois de uma hora, ou duas para atletas treinados, é impossível manter o ritmo. Este fenômeno é bem conhecido pelos praticantes de maratona. O açúcar acaba e é preciso reduzir a intensidade do exercício para mobilizar as reservas de energia armazenadas no corpo sob a forma de gordura.

Ou seja, para mobilizar a gordura e utilizá-la como combustível durante uma remada, temos que remar tranquilamente, sem pressa, sem barulho, em uma palavra: lentamente. Se a respiração é ofegante, se não conseguimos falar uma frase inteira sem ter respirar no meio, se não basta mais respirar só pelo nariz, é porque estamos indo rápido demais para queimar só gordura. 
É preciso diminuir o ritmo para preservar a reserva de glicogênio para que possa ser usada no caso de necessidade de realizar um esforço mais explosivo, como passar pela faixa de arrebentação de ondas, subir uma costeira, ajudar um amigo em dificuldade, se safar de uma situação de risco e... sobreviver.

Fora isso, remar lentamente tem outras vantagens: faz menos barulho possibilitando o avistamento de animais; oferece menos risco de lesões, principalmente estiramentos musculares e tenosinovites; facilita uma postura relaxada e mais atenta à paisagem; diminui a transpiração, economizando água.
Mente quieta, espinha ereta e coração tranquilo.



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